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A torcida do lado de fora

  • Miguel Ângelo Cançado
  • 22 de fev. de 2015
  • 2 min de leitura

As chamadas torcidas organizadas tiveram suas “atividades suspensas” e estão proibidas de frequentar os estádios de futebol em Goiás. A medida judicial promovida pelo Ministério Público foi divulgada esta semana com grande alarde e repercussão pela imprensa goiana.

Grande troféu a ser exibido em praça pública, digno de merecer placa que eternize o feito e, se não for um exagero, podiam até ser confeccionadas camisetas para a celebração do fato de que o Estado brasileiro está admitindo ter falido na sua capacidade de cumprir o dever de dar segurança aos cidadãos. A partir daí, começa a cercear direitos, no caso, cortando um pouco do circo da população mais humilde.

Mas os argumentos contra as torcidas organizadas são numerosos e consistentes. São muitos os baderneiros que neles se inserem, reiterados são os crimes que vêm ocorrendo nessa seara. Ainda assim, assombra a súbita proibição de acesso aos estádios. Ora, que país é este que, e sei que há outros que o fizeram, por questões de segurança, chega ao ponto de proibir que movimentos organizados de pessoas se manifestem nas arenas desportivas?

Perdão pela vulgaridade, mas retirar as torcidas organizadas dos estádios a pretexto de garantir a segurança das demais pessoas, além de obscurecer muito o brilho do espetáculo, já que o movimento que ecoa das arquibancadas faz parte do show, parece-me um pouco com aquela velha história do marido que, traído, e sabendo que a traição se dá no sofá da sala, simplesmente troca o sofá. Quer dizer, se não é possível resolver o essencial, que se resolva o problema pela via menos traumática. E, nesse passo, que se adie o sofrimento!

Ainda este ano, o Brasil vai sediar um grandioso evento esportivo mundial, como preparação para a Copa de 2014, mas, e aí, como resolver tão melindrosa sinuca antes que a comunidade futebolística internacional comece a se assustar, mais do que já deve ter se assustado, com nossos índices de violência?

Na esteira desses monumentais eventos no campo da bola, não se pode esquecer que investimentos bilionários estão sendo feitos no Brasil com a construção de belos estádios de futebol. Então, passada a Copa do Mundo e, desde que se espalhem decisões proibitivas assim, o que será destes espaços? Quem poderá frequentá-los?

Nelson Rodrigues, tricolor de quatro costados, certa feita apelou aos torcedores do Fluminense, vivos ou mortos, para que não faltassem nunca ao Maracanã aos domingos, chegando a dizer que “a morte não exime ninguém de seus deveres clubísticos”. E agora, o que faria o jornalista e dramaturgo, se ainda estivesse entre nós, se visse que é o próprio Estado que diz ao cidadão: “Não, você não pode ir aos estádios, sobretudo se vestir as cores do seu time do coração e portar um instrumento musical!”.


 
 
 

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